Paulino Cardoso e Mariana Schlickmann (*) – 28 de março de 2024
O Senegal passou por eleições no último domingo, dia 24 de março, e de acordo com os resultados preliminares anunciados na quarta-feira, o líder da oposição, Bassirou Diomaye Faye, foi eleito presidente nas eleições do país da África Ocidental.
Faye, de 44 anos, foi encarcerado por 11 meses e foi libertado da prisão 10 dias antes da votação. Mesmo assim, obteve mais de 56% dos votos expressos, segundo o tribunal de apelações da capital, Dakar, em conferência de imprensa.
Já o candidato da coligação governante, o antigo primeiro-ministro Amadou Ba, obteve cerca de 35% dos votos. Vale lembrar que dos 18 milhões de habitantes do país, 7 milhões estavam aptos a votar e 61,3% efetivamente participaram das eleições.
Segundo a RT, mídia russa, o diretor de campanha do líder da oposição, Moustapha Guirassy, disse à mídia local no domingo que Faye recebeu telefonemas de 13 dos 18 oponentes parabenizando-o pela vitória, quando os primeiros indícios mostraram que ele liderava. O presidente cessante do Senegal, Macky Sall, também felicitou Faye pela sua vitória eleitoral.
As eleições, previstas para fevereiro, realizaram-se após meses de tensão e protestos no país africano, desencadeados por vários processos judiciais contra o líder popular da oposição, Ousmane Sonko. Uma decisão anterior, que teria adiado a votação até dezembro, foi considerada inconstitucional pelo principal tribunal eleitoral do Senegal, que ordenou ao governo que fixasse uma data antes do final do mandato de Sall, em 2 de abril.
Ainda segundo a RT, Sonko, que foi impedido de concorrer devido a uma condenação anterior, escolheu Faye para concorrer. Faye e Sonko, co-fundadores do agora extinto Partido Patriotas pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (PASTEF), fizeram campanha sob a bandeira “Diomaye é Sonko” depois de terem obtido anistia política bem a tempo para a votação.
Considerado um panafricanista de esquerda, Dyomaye colocou no centro de sua campanha o enfrentamento da corrupção e o fim do colonialismo francês no Senegal, representado principalmente pelo uso do franco CFA, articulado ao euro e controlado pelo Banco Central da França.
Um outro aspecto importante na pauta do candidato eleito é a revisão dos contratos de hidrocarbonetos com empresas estrangeiras. Além de petróleo, desde o início do século foram encontradas imensas jazidas, com bilhões de metros cúbicos de gás, em diferentes pontos no litoral senegalês. Pelos atuais contratos de parcerias com empresas australianas, britânicas e chinesas, entre outras, o Estado senegalês recebe até 15% de royalties, até 10% de participação da Petrosen, a empresa pública de petróleo, e mais um imposto de 30% cobrado sobre sociedades. A revisão desses contratos poderão contribuir para melhoria das condições de vida de milhões de senegaleses.
Do ponto de vista geopolítico, o novo presidente poderá fortalecer o papel da África Ocidental, libertada do colonialismo e do imperialismo. O país já faz parte do programa chinês de investimentos, a Iniciativa Cinturão e Rota, conhecido como Novas Rotas da Seda. Na última cúpula do BRICS, na África do Sul, manifestou interesse em participar do bloco e, principalmente do NDB, o Banco dos BRICS, presidido pela brasileira Dilma Rousseff.
Na época, o presidente cessante, Macky Sall, saudou a ampliação dos BRICS, afirmando: “a tendência de mais países se juntarem ao BRICS mostra que eles têm esperança de uma nova ordem. Precisamos de uma nova estrutura, um novo ímpeto e uma nova maneira de governar. É isso que significa apoiar o BRICS e é por isso que essa tendência não pode ser interrompida”, publicado no TVBRICS.
Diante de tantos desafios, um sopro de esperança percorre o mundo.
Fontes:
Rodrigo Durão Coelho – Brasil De Fato- https://www.brasildefato.com.br/2024/03/25/candidatos-reconhecem-vitoria-de-opositor-de-esquerda-e-senegal-deve-ter-presidente-mais-jovem-de-sua-historia
Oliver de Souza – https://reseauinternational.net/les-futurs-grands-eldorados-africains-du-gaz-1ere-partie-cas-du-senegal/
Joyce Chimbi. Global Times – https://www.globaltimes.cn/page/202402/1307312.shtml
RT – https://www.rt.com/africa/595060-senegal-opposition-leader-wins-presidential-elections/
(*) Historiadores, analistas geopolíticos e editores do site Mundo Multipolar.
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